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Após ter levado os originais do “Pensão Margaridas” para o meu amigo e ex-cunhado Ivan Junqueira, na tarde de 1º de maio de 2014, em seu apartamento no Leme (RJ), ocorreu algo marcante: apesar do livro ter recebido inúmeros elogios de leitores experimentais, desta vez a questão seria bem mais séria: os originais iriam passar pelo crivo de um dos críticos mais respeitados e intransigentes de nossa literatura. Eu suava frio nas mãos.

Ao revelar com poucas palavras o conteúdo do Pensão Margaridas, entreguei a ele os originais, quando declarou que iria ser muito franco caso o livro não fosse bom, para que eu não perdesse o meu tempo. Perguntou se eu tinha alguma pressa, pois estava preparando e organizando vários livros, alguns dos quais em razão dos oitenta anos que estava prestes a completar. Ele me confessou que essa data o assustava muito…

Dois dias depois, ou seja, na noite de sábado, três de maio, o Ivan me ligou fazendo os maiores elogios.

Foi o meu rito de passagem.

E ele falou:

– Eu gostei muito! Você está de parabéns!

– Não pode alterar nada no que se refere à estrutura do livro.

– Conseguiu tratar com humor o tema.

– Gostei do susto que o leitor recebe no final.

Após uma observação que fiz quanto ao garoto que morreu na Clínica, vítima de erros médicos, caso que teve, na época, repercussão nacional, ele falou:

– Mesmo que não houvesse a história do menino que morreu, o livro continuaria sendo muito bom!

– Vou fazer o prefácio. Daqui a menos de uma semana deverá estar pronto. Se precisar de alguma coisa nos próximos dias, estarei à sua disposição!

O Ivan também demonstrou preocupação quanto à publicação do livro, e mencionou o nome de uma amiga, a Maria Alice, que era ligada a uma editora, com quem iria falar. Em seguida, falei: “Ivan, o editor que publicar o meu livro vai ganhar muito dinheiro”. E ele respondeu: “Talvez”.

Acabei ligando para ele apenas na segunda-feira da semana posterior àquela que se seguiu, e algo muito sério havia acontecido: naquela mesma tarde o Ivan havia sido internado no hospital Pró-Cardíaco em Botafogo, do qual não saiu mais com vida.

 Após sua morte, o prefácio foi encontrado em manuscrito. Como condição para ser publicado (houve a intervenção do Carlos Secchin, da Academia) a Cecília Costa exigiu que fossem mencionadas as circunstâncias do texto: “Este prefácio, que o autor provavelmente não chegou a concluir, se constitui no último texto escrito por Ivan Junqueira.”